Com a disparada no preço da gasolina e do diesel, o frete grátis e as entregas rápidas oferecidas pelo e-commerce se veem ameaçadas. É o que prevê a diretora-executiva da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol), Marcella Cunha. “O operador logístico não consegue absorver esse custo e precisa repassar para os clientes”, disse à imprensa. Segundo ela, de 40% a 60% dos custos de um operador logístico atualmente são dedicados ao combustível.
O cenário, apesar de negativo para o setor varejista como um todo, pode impactar no comportamento do consumidor, fazendo com que este recorra às lojas físicas. De acordo com pesquisa realizada pela MindMiners, entre julho e agosto de 2021 com mais de 2 mil pessoas, os consumidores ainda preferem comprar em lojas físicas produtos como remédios, acessórios para pets e itens para casa. As melhores características das lojas físicas citadas pelos entrevistados foram a possibilidade de ver o produto ao vivo (75%), de levar o produto para casa após a compra (63%), poder tirar dúvidas com o vendedor (48%), aproveitar o momento da compra para passear (43%), promoções (43%) e ir acompanhado de amigos e familiares (26%).
Por outro lado, o pagamento do frete foi apontado como a pior característica das compras online por 68% dos entrevistados, aparecendo antes mesmo da impossibilidade de se ver o produto ao vivo mencionada por 63% deles. Outros pontos negativos do e-commerce citados pelos respondentes foram a dificuldade de devolução em caso de problema (51%), o prazo de entrega (50%), a insegurança dos dados pessoais (38%) e a ausência de vendedores (12%).
No estudo, 87% das pessoas ainda afirmaram que já desistiram de um carrinho de compra online após terem visto o valor do frete. Na tentativa de contornar essa desistência, algumas empresas passaram a mostrar o cálculo da taxa na página de compra do próprio produto, ou então oferecer a entrega grátis para clientes com assinaturas de fidelização ou que fazem compras com valores mais altos.
Entretanto, no contexto atual, até mesmo os marketplaces das marcas referência no Brasil quando se trata de e-commerce estão revendo suas estratégias. No Mercado Livre, as compras de supermercado que ganhavam frete gratuito a partir de R$ 79 passam a ter o benefício apenas quando o cliente gasta a partir de R$ 199. Já a Amazon, que tem frete gratuito para quem é assinante do serviço Prime, reajustou o seu plano mensal de R$ 9,90 para R$ 14,90, enquanto a anuidade foi de R$ 89 para R$ 119.
Para Maurício Romiti, diretor administrativo da Nassau Empreendimentos, empresa que administra vários shopping centers pelo Brasil, como o Center3, na Avenida Paulista, a queda no preço do combustível com a recente redução da alíquota do ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] diminuiu a pressão sobre o frete, mas o preço histórico continua alto, o que reflete nos valores do varejo físico e digital. Além disso, o gestor aponta que a alta do câmbio também pressiona os itens importados do varejo.
Para ele, o cenário não deve mudar o comportamento do consumidor de comprar pela internet adquirido, sobretudo, na pandemia. “O online veio para ficar e pode conviver bem com a experiência de ir ao shopping ver o produto ao vivo, passear com a família. O que as empresas têm adotado atualmente é a chamada estratégia omnichannel, que oferece múltiplos canais de atendimento de forma integrada. Comprar online e retirar o produto na loja física, por exemplo”, analisa Romiti.