A reabertura do comércio ao redor do país pode não ser suficiente para uma melhora concreta do consumo. Aspectos como os cortes de salário e jornada, a queda de confiança do consumidor e as expectativas de aumento do desemprego até o final deste ano ainda devem influenciar as decisões de consumo.
Os números já mostram o agravamento da situação do setor ante a pandemia do coronavírus. O indicador de movimento do comércio da Boa Vista, que acompanha o desempenho das vendas no varejo pelo país, apresentou queda de 26,6% em abril na comparação mensal sem efeitos sazonais. No acumulado do ano, o indicador recuou 6,4% contra os primeiros quatro meses do ano passado e 26,3% em relação a abril de 2019. Foi a terceira queda mensal consecutiva. A expectativa, agora, é quanto ao desempenho em maio, que está chegando ao fim.
Variáveis do consumo
“Quatro variáveis são determinantes no consumo e, consequentemente, no comércio: renda e emprego, mercado de trabalho, crédito e juros. Apesar de a sinalização ser de que a quarentena caminha para um fim, essas questões ainda permanecem e já influenciam nas expectativas de retomada, principalmente se tiverem efeitos mais permanentes, como a perda de postos de trabalho ou o fechamento de empresas”, afirma.
O economista diz, porém, que tem a expectativa de que os números estejam chegando ao ponto máximo de agravamento. “Ainda espero número ruins em relação a maio, mas a tendência é que essa queda não seja mais tão drástica.”
O indicador de emprego da Fundação Getúlio Vargas (FGV), por exemplo, apontou um recuo de 3,2 pontos em abril para 39,7 pontos, a maior queda mensal e o menor nível da série história iniciada em 2008. Na média móvel do trimestre, esse mesmo indicador caiu 17,5 pontos (para 71,4 pontos). Outro indicador da FGV, o Monitor do PIB também apresentou uma retração mensal de 5,3% em março – primeiro mês de isolamento social no país -, com queda de 6,5% no consumo das famílias brasileiras.
“Dado o fato de que vínhamos de uma mudança de expectativas e de confiança após uma crise que durou anos, o atual momento com certeza deixa as pessoas mais cautelosas e conscientes do orçamento”, afirma o economista da Boa Vista. Esse cenário, segundo Calife, se mostra de forma mais evidente na abertura por setores. Ainda conforme o indicador de movimento de crédito da Boa Vista, a maior queda foi observada no segmento de “Móveis e Eletrodomésticos”, com recuo de 83,3% em abril – já havia registrado baixa de 13,5% no mês anterior, descontados os efeitos sazonais.
A categoria de “Tecidos, Vestuários e Calçados”, por sua vez, recuou 2,9% no mês, enquanto o setor de “Combustíveis e Lubrificantes” caiu 18,2%. O item “Outros artigos de varejo” reduziu 12%. “O segmento de combustíveis deve acabar se recuperando com a reabertura da economia, já que muito dessa queda se dá porque as pessoas não estão saindo de casa”, afirma Calife. “Supermercados, Alimentos e Bebidas” foi a única analisada pelo indicador que evitou perdas, mas ainda assim se manteve em patamares praticamente estáveis: variação de 0,1% no mês.
Fonte: Mercado e Consumo, com informações da Agência Brasil.