A segunda edição do Super Fórum, que aconteceu no último dia 5, no Expo Center Norte, em São Paulo, reuniu mais de 800 participantes para debater o cenário econômico atual do varejo, o futuro do setor do ponto de vista tecnológico, as transformações do trabalho e do atendimento e as novas tendências do consumo. O evento, que teve como mestre de cerimônias a jornalista Izabella Camargo, iniciou-se com depoimento de Denis Correa, presidente da DMCard e idealizador do fórum. “O segredo do sucesso do negócio é a paixão pelo que se faz”, disse.
O primeiro painel foi comandado por Zeina Latif, ex-economista-chefe da XP Investimentos, que começou o debate analisando o atual cenário econômico brasileiro e especificando como a crise tem impactado tanto os empresários, quanto o próprio cliente final. “Temos capacidade de crescimento de acordo com a nossa infraestrutura. Hoje este potencial é muito baixo devido aos problemas estruturais que se agravaram com a crise prolongada no país”, explicou, acrescentando que, mesmo com reformas aprovadas pelo congresso, o Brasil demorará a sentir os efeitos positivos.
Mudança de Comportamento do Consumidor
No segundo painel, Renato Meireles, presidente do Instituto de Pesquisa Locomotiva, apresentou as recentes mudanças de comportamento do consumidor por conta dos efeitos da crise econômica. Segundo o executivo, nos últimos quatro anos, grande parte da população sofreu com a recessão e, atualmente, ao menos 57,9 milhões de brasileiros se preocupam com dívidas.
Apesar do poder de compra estar reduzido, o consumidor não abre mão da qualidade dos produtos que adquire. “Houve uma radicalização na demanda por custo e benefício. 81% dos representantes dizem estarem mais atentos à qualidade dos produtos do que no passado”, ponderou, frisando que, por conta deste novo posicionamento de mercado, o processo de compra acabou virando um espaço de frustração para o cliente final. “O consumidor não quer mudar o padrão de qualidade, mas tem menos poder aquisitivo, o que dificulta a conciliação de suas expectativas”, explicou.
Para Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira do Varejo de Consumo (SBVC) e terceiro a subir no palco do evento, o cenário atual aponta para as necessidades cada vez mais personalizadas dos consumidores, que demandam uma relação única com a marca. De acordo com estudo da Salesforce, apresentado durante este terceiro painel, 51% dos consumidores têm a expectativa de que as empresas antecipem as suas necessidades de compra e façam sugestões relevantes.
Conforme o executivo, a tecnologia tem ajudado o mercado a estreitar laços com o consumidor por conta da mudança de comportamento no atendimento. Apesar disso, no Brasil, o consumo virtual ainda apresenta um crescimento tímido. Um exemplo é a penetração do e-commerce pelo mundo: 30% do volume no mercado chinês, 18% no inglês, 12% no americano e apenas 5% no brasileiro. Por isso, para ele, o Brasil ainda precisa assumir um novo papel mais digital no setor, com o uso de dados, novos indicadores, integração das lojas físicas com o e-commerce, experiência e afins.
Brasileiros aderem ao voluntariado
Ainda pela manhã, Fábio Silva, presidente da Fábrica do Bem Consultoria e Porto Social, abordou o tema “Empreendedorismo Social: Mobilização Engajamento Cívico”. Ele contou a história de como tornou-se um defensor do bem e, ao ser questionado pela plateia a respeito do limite entre o oportunismo e a divulgação do crescimento do trabalho com a ONG nas redes sociais, ele pontuou: “Se você dorme em paz, está certo o que faz”. Segundo ele, em 2022, serão 5 milhões de brasileiros voluntariando. “Os prefeitos das cidades seremos nós, fazendo uns pelos outros”, disse Silva. “Não é tempo de desesperança. É tempo de esperançar”, concluiu.
Mentalidade digital
Martha Gabriel, especialista em inovação, foi a primeira palestrante da tarde e iniciou provocando os participantes sobre a importância de o mercado se atrelar às novas tendências de tecnologia. “Hoje em dia, se a experiência digital é ruim, a experiência total fica ruim”, disse, explicando que a “mentalidade digital é saber utilizar a tecnologia quando ela é útil e ajuda a resolver problemas”.
Para a especialista, o mundo está acelerando e adentrando a sociedade 5.0. “Tudo o que a gente aprende se torna obsoleto cada vez mais rápido”, explicou, frisando a necessidade de o mercado se ajustar às tecnologias no setor. “Novas formas de trabalhar impactam o processo de criação de valor”. Martha Gabriel ainda frisou que o mercado digital é tão importante, que mesmo um serviço mediano pode se tornar mais efetivo do que um “analógico”. “Uma pessoa mediana empoderada por tecnologia torna-se melhor do que o maior expert humano trabalhando sem tecnologia”.
Consumidor digital
Bruno Nardon, sócio e co-fundador da Rappi Brasil, explicou como a atenção do consumidor atual se voltou para o digital, especialmente no âmbito mobile. “Atualmente, 70% da população possuem acesso à internet, sendo 150 milhões de internautas e 140 milhões destes via celular”. 56% das vendas físicas começam no online, com as próprias pesquisas. Portanto, todo o processo de atendimento deve surpreender os consumidores, inclusive no âmbito digital. “Não tenha medo de errar. Planeje, execute, meça os resultados e escale ou reitere”.
É preciso criar oportunidades
Finalizando o segundo Super Fórum, o economista Ricardo Amorim apresentou dados sobre a economia atual brasileira e as expectativas para os próximos anos. Segundo o executivo, a China e a Índia são os novos motores globais, já que contribuem com grande parte do PIB mundial: o primeiro com 32,7% e o segundo com 13,5%. Atualmente, com a alta do dólar e o enfraquecimento do real, o mercado brasileiro se tornou atrativo para os investidores externos, já que o valor da moeda americana, hoje, representa um desconto de 30% na taxa cambial para as empresas estrangeiras.
Este cenário se fortifica ainda mais pelo fato de as ações norte-americanas estarem em alta de 110%. “A economia brasileira está melhorando. Se o governo parar de se pronunciar de maneira errada, os investimentos vão começar a acontecer”, pontuou.
O economista ainda citou a revolução financeira e tecnológica que vem acontecendo no Brasil por conta do surgimento das fintechs. “Os bancos começaram a ter competição, então o preço do serviço automaticamente caiu e a expansão do crédito melhorou”.
Para Ricardo Amorim, houve uma revolução tecnológica nos últimos 20 anos e, por isso, a renda das pessoas aumentou mais do que nos últimos 2 mil anos anteriores. “Nunca se ganhou tanto dinheiro tão rápido”. O economista terminou o seu painel pontuando que ainda há muitas incertezas sobre o cenário econômico brasileiro, mas que ainda existem boas chances de crescimento. “As oportunidades não caem no colo. Nós é que precisamos criá-las”.