A prevenção de perdas de estoque no ambiente dos negócios pode significar a sobrevivência da empresa. Dados divulgados pela Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (Abrappe) revelam que as perdas no varejo em 2017 atingiram R$ 19,5 bilhões no Brasil. Para muitos varejistas, reduzir perdas se tornou mais que uma prioridade.
Antes, em um cenário econômico diferente que do que vivemos hoje, aumentar o preço e a base de consumidores eram estratégias aplicáveis que geravam resultados positivos e equilibravam a balança das perdas. Atualmente, a realidade é outra. Com a redução da inflação, o aumento da concorrência e a crescente maturidade do mercado consumidor, aumentar o preço não é mais uma opção. Então, para garantir e manter resultados positivos, a saída é uma só: reduzir custos. E, no mercado de bens de consumo, a linha de estoques é a que chama mais atenção.
As perdas são danosas para qualquer empresa, independentemente do seu tamanho. Prevenir perdas de estoque é garantir que o investimento na compra de mercadoria seja revertido em receita para a companhia. Furtos e roubos são representativos, como no vaso do segmento de calçados, mas não são as principais causas das perdas no varejo em geral. No varejo alimentar, por exemplo, os grandes violões são a avaria, o vencimento e a maturação dos produtos, e esses devem ser controlados. A conversão de receitas maiores com o mesmo Custo de Mercadoria Vendida (CMV) aumenta as margens e, para perenizar este resultado, são necessários quatro componentes básicos: apuração, governança, cultura e execução.
1. Apuração – O primeiro componente, de apuração, refere-se basicamente em garantir que os processos de contagem periódica do estoque sejam realizados de forma acurada e recorrente. A diferença entre o estoque computado no sistema e o estoque físico dimensiona o quanto deste foi desviado do seu objetivo final, que é gerar receita. Para garantir um melhor registro de perdas, algumas empresas possuem também instrumentos para segregar os desvios em perdas não identificadas (furtos e roubos) e perdas identificadas (avaria, vencimento e maturação).
2. Governança – O segundo componente, que é a governança das perdas, consiste em criar mecanismos para dar transparência aos resultados de perdas e comunicar todas as camadas do negócio periodicamente sobre estes resultados para que a tomada de decisão e a remoção de barreiras seja feita tempestivamente. Comitês corporativos multidisciplinares, com participação de diversas áreas do negócio, é fundamental, pois a perda ocorre por motivos sistêmicos e interconectados.
3. Mudança de cultura – O terceiro componente para redução de perdas é a mudança de cultura, que consiste em evoluir o modelo da ‘venda a qualquer custo’ pela ‘venda com rentabilidade’. A mudança de cultura passa pela disseminação de campanhas de comunicação interna sobre o tema prevenção de perdas, aplicação de treinamentos teóricos e práticos para as camadas de operação e planos de incentivo diretamente ligados aos resultados de perda do negócio.
4. Ações para redução – O quarto componente, mas não menos importante, é a execução de ações para redução de perdas, considerando melhorias nos processos, nos sistemas, nas tecnologias e na infraestrutura do negócio. Investimentos para aprimoramento das ferramentas visando prevenir perdas são importantes para garantir resultados eficazes e perenes no negócio.
5. Identificar, reduzir e controlar – Prevenir que as perdas aconteçam é um esforço constante e contínuo com começo, meio e fim, ou seja, é preciso identificar, reduzir e controlar as perdas. É muito comum observar empresas que, ao tirarem seu foco de algum desses pontos, acabam vendo seu lucro virar prejuízo. O que significa que não basta investir apenas em um dos pilares. É preciso manter a energia constante ao longo da caminhada para que os resultados sejam perenizados.
Autor – Rodrigo Castro, diretor de riscos e performance na ICTS Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados.