Dados apurados pela CNDL e pelo SPC Brasil mostram que, após atingir crescimento recorde no auge da recessão econômica, a inadimplência do consumidor dá sinais de desaceleração. O volume de atrasos no primeiro semestre de 2019 cresceu 0,9% na comparação com o final do ano passado. Trata-se da segunda menor variação nos atrasos desde 2012, quando a inadimplência havia crescido 5,8% no primeiro semestre daquele ano. Já em 2017, o crescimento observado foi muito semelhante ao deste ano, com alta de 0,8%.
Considerando apenas o mês de junho, o volume de consumidores com contas sem pagar e registrados em listas de inadimplentes também apresentou um crescimento mais modesto: 1,7% frente a junho de 2018. É o menor avanço na base anual de comparação desde dezembro de 2017 (1,3%).
Na avaliação do presidente da CNDL, José Cesar da Costa, a inadimplência apresentar crescimento a taxas mais modestas é um fator positivo, que acompanha a lenta recuperação da economia, mas o estoque de pessoas com contas em atraso e que enfrentam dificuldades para voltar ao mercado de crédito ainda é muito elevado. Até abril deste ano, eram 62,6 milhões de pessoas nessa situação, o que representa quase 41% da população adulta.
“O ano de 2019 vem frustrando as expectativas de que haveria uma consolidação no processo de retomada econômica com reflexo positivo no dia a dia dos consumidores. Embora os juros estejam menores e a inflação dentro da meta, o desemprego ainda é elevado e acaba reduzindo tanto a capacidade de pagamento das famílias, quanto o apetite as compras. A recuperação está mais lenta do que o esperado e as projeções mostram que teremos um segundo semestre ainda tímido para as finanças do brasileiro, mesmo com o avanço de reformas estruturais, cujos efeitos serão sentidos no longo prazo. A expectativa é de que a inadimplência comece a apresentar recuos a partir de 2020”, analisa Costa.
Avanço maior no Sudeste: 3,4%
Dados mais detalhados do indicador revelam que houve alta na quantidade de consumidores em três das cinco regiões do pais. A mais acentuada foi na região Sudeste, cujo crescimento foi de 3,4% em junho frente ao mesmo período do ano passado. Em segundo lugar, ficou a região Norte, que apresentou alta de 2,2% na quantidade de devedores, seguida do Sul, que teve crescimento de 1,79%. Com exceção do Norte, todas essas regiões também apresentaram desaceleração nos atrasos. Já no caso das regiões Nordeste e Centro-Oeste, foram observados recuos de -0,6% e -0,3%, respectivamente.
Quanto à faixa etária, houve queda da inadimplência entre a população mais jovem, enquanto o número de atrasos aumentou entre os brasileiros de idade mais elevada. Na faixa dos 18 aos 24 anos, a queda foi de 22,7% e na faixa dos 25 aos 29 anos, de 9,1%. Na faixa que abrange pessoas de 30 a 39 anos, a inadimplência ficou praticamente estável (-0,8%). O maior crescimento no atraso de contas foi observado na população idosa, de 65 aos 84 anos, cuja alta foi de 7,5%. Em seguida, aparecem os consumidores de 50 a 64 anos (3,9%) e de 40 a 49 anos (2,8%).
Do total de consumidores que têm contas em atraso no país, um quarto (25%) está na casa dos 30 anos, fase da vida em que as pessoas tendem a assumir mais compromissos financeiros, como casamento, filhos e despesas domésticas. Os idosos acima dos 65 anos formam 10% do universo total de inadimplentes, ao passo que jovens de até 24 anos somam 4% dos que estão nessa situação.
Contas de água e luz lideram atrasos
O indicador ainda revela que o valor médio da dívida do brasileiro se manteve praticamente estável na passagem de maio para junho. Somando todas as pendências, cada consumidor inadimplente deve, em média, R$ 3.252,70 – cifra -0,4% inferior ao constatado no mês anterior (R$ 3.239,48). O valor representa quase três vezes e meia o salário mínimo no país (R$ 998,00). Em média, cada devedor tem duas contas em aberto.
Em junho deste ano na comparação com 2018, houve uma queda de 1,0% no volume de dívidas contraídas em nome de pessoas físicas. Trata-se da sexta queda consecutiva na série histórica do indicador. As despesas básicas como contas de água e luz foram as que mais cresceram em junho de 2019, com alta de 17,2% na base anual de comparação. As dívidas bancárias, como cartão de crédito, cheque especial, financiamentos e empréstimos, tiveram alta de 2,7%. Já as compras realizadas no carnê ou crediário em estabelecimentos comerciais caíram -5,2%, enquanto os atrasos em contas de internet, TV por assinatura e serviços de telefonia despencaram 20,3% no período.
De acordo com o indicador do SPC Brasil, mais da metade das dívidas pendentes (53%) de pessoas físicas no país têm como credor algum banco ou instituição financeira. A segunda maior representatividade fica por conta do comércio, que concentra 17% do total de dívidas não pagas, seguido pelo setor de comunicação (11%). (Foto principal de www.mercadoeconsumo.com.br)
Metodologia
O indicador de inadimplência do consumidor sumariza todas as informações disponíveis nas bases de dados às quais o SPC Brasil e a CNDL têm acesso. As informações disponíveis referem-se às capitais e ao interior das 27 unidades da federação. Baixe a íntegra do indicador e a série histórica aqui